terça-feira, 30 de julho de 2024

Os olhos da ilusão: Sinopse

-Descrição do cenário:

    Em uma situação fictícia, em 2024, as tensões entre Palestina e Israel se converteram em uma guerra de proporções globais, vários países usaram o local para testar seus exércitos e convenceram seus aliados a fazerem o mesmo, assim como na Guerra Fria, os países se tornaram marionetes para testar as armas de superpotências, com o apoio de seus aliados, que apenas esperavam um conflito qualquer como álibi. 

-Sinopse:

     Estava tão ansioso por este dia, meu alistamento no serviço militar, com a escalada na guerra entre Palestina e Israel e minha maioridade neste 2024, finalmente posso me alistar, por anos sonhei com o dia de hoje.

    Desde quando as proporções da guerra se tornaram globais, vi a chance de realizar meu sonho de lutar, servir ao meu país. Via com brilho nos olhos as propagandas do exército, os jogos de guerra, filmes épicos de protagonistas que derrotavam exércitos inteiros sozinhos, os policiais de forças especiais, os guerreiros lendários da história, como Alvin York, Simo Häyhä, Adrian de Viart, os soldados russos em Osowiec, os soldados belgas contra a Alemanha na Segunda Guerra Mundial ou a defesa de Belgrado.

    Alistei-me ao fim do ano no 7º Depósito de Suprimentos e fui aos treinamentos logo em 2025, foram dias complicados, era intenso e cruel, tinha fome, longas horas acordado, patrulhas e caminhadas sem fim, mas não me deixei abalar, segui firme meu sonho, alguns irmãos de armas eram contra ir à guerra, achava que lhes faltava o espírito de um soldado. Neste período nos tornamos um time, somos imbatíveis, somos parte do 10º Esquadrão de Infantaria Motorizada, passamos pelas maiores dificuldades juntos até agora, é um pelotão de 35 homens, eu, João Albuquerque, João Felipe, Antônio Marcos, Antônio Ferreira, Amaral Correia, Pedro de Nóbrega, Pedro Henrique, Paulo Fragoso, Carlos de Brito, Carlos Pinto Filho, Marcelo Gomes, Henrique de Almeida Neto, Lucas Alcântara, Lucas Correia, Lucas Macedo, Joaquim de Goes, Renan Alves, Altair José, Victor Fragoso, Vitor Aldeia, Simão Dutra, Saviano Ferreira, Robson Filho, Emanuel da Costa, João Fragoso, Bruno Costa Filho, Daniel Fragoso, Fernando Brito, Gustavo de Borges, Gabriel de Almeida, Mateus Barros, Osvaldo Salgado, Davi Pereira e Fausto Bezerra.

    Fomos enviados num KC-390, saindo da Base Aérea do Galeão com várias escalas, uma em Recife, depois em Cabo Verde e outra em Lisboa, onde passamos a noite, de lá íamos para a base israelense. Tinha uma caixa barulhenta conectada ao avião quando embarcamos, tudo era tão rústico, vários fios expostos por dentro, umas coisas que pareciam bolsas infladas no teto, quase não tinha janelas. O primeiro sargento nos passava as informações, são três tripulantes na cabine e o load master conosco. Eu estava sentado na parte do meio, afivelado pelo cinto, os assentos eram estranhos mas nada fora do comum, eram um tecido esticado entre duas barras metálicas, mesma coisa o encosto. Meu coração pulava de alegria e ansiedade, o load master ajudava os outros colegas enquanto me concentrava em minha missão, enquanto Victor Fragoso passava mal, eu só pensava na guerra, o quão bom seria.

    Chegamos lá no que chamamos de "beligerância", é o estado de guerra, fomos a uma tenda de campanha bem improvisada ao lado do aeroporto, haviam muitos paisanos de vários tipos, além de vários militares americanos, israelenses, alemães, britânicos e franceses, muitos sacos de corpos esperando transporte, tinha uma sensação estranha, mas era isso que eu queria, estes civis mal sabem o que estão perdendo, poderiam muito bem pegar em armas e vir lutar junto a nós. Logo me desloquei para os planos, o sargento passava no mapa o que deveríamos fazer, ele até nos ensinou como cortar um mapa de papel para dobrar e ver só os quadrantes importantes por vez ao invés de abri-lo por completo.

    Definida nossa primeira operação, fomos invadir uma região tomada por soldados palestinos, assumimos nossas posições e rapidamente tomamos o controle, ali matei o primeiro inimigo de muitos que pretendia, ele estava longe, era estranho, mas foi instintivo, nem me dei conta do que estava fazendo. Servição, todos saíram bem, todos os inimigos neutralizados, Brasil! Era só isso que importava. Em nossa segunda operação, as coisas não correram tão bem, logo nos surpreenderam no local, não esperávamos que teriam inimigos nos flancos, apenas no posto de controle, nisso Lucas Alcântara foi atingido, levamos para o hospital de campanha para se recuperar, mas isto me subiu uma sensação estranha, e se eu for atingido? O que acontecerá comigo? Não sei, mas vou lutar para que isso não aconteça.

    Agora temos uma missão um pouco mais difícil, nosso pelotão e o 26º estão prontos para tomar um ponto crucial palestino, eles são traiçoeiros e disparam contra nós a esmo, sem cuidado com nada, atingindo tudo ao redor com metralhadoras pesadas e fuzis. Por que eles não precisam seguir as regras e nós precisamos? Numa destas rajadas, Henrique foi atingido, tinha um sangramento intenso, me desesperei um pouco, tentei fazer os primeiros socorros, mas logo ele parou de agonizar, vi em seus olhos, suas pupilas dilataram, não acreditei no que via, ele morreu diante de mim, como pode? Por quê? Isso é inaceitável, é impossível, nós somos um time, ele não pode morrer, mas, ele está aqui, morto. Isto me abalou bastante, não sei o que dizer, achei que ninguém morreria.

    Mais um serviço e minha cabeça está um pouco distante, passo por uma cidade em ruinas, mas ela está cheia de paisanos, o que eles estão fazendo aqui? Será que eles também querem lutar? Então meus olhos viram rapidamente para um senhor que aparenta estar na casa dos 50, ele carrega uma sacola de pão pita enquanto está saindo de um prédio em ruínas, aquele prédio era uma padaria, ao menos é o que a placa parece dizer segundo nosso tradutor, logo depois emerge uma senhora com sua filha, que aparenta estar na casa dos 5 anos, saindo de lá com umas sacolas de papel improvisadas, eles estão simplesmente vivendo? Era para esta cidade estar vazia, se não está aqui para lutar, o que fazem? Meu tradutor conversa com os civis e eles respondem que aqui é onde eles sempre viveram, não têm para onde ir. Uma senhora fala de suas memórias da infância, de como costumava brincar num lugar que, quando ela aponta, agora é só escombros, ali era um parquinho, me aponta a escola que ela estudou, que agora é um hospital improvisado, aos poucos esta patrulha na cidade me faz perceber que aqui é um lugar como qualquer outro, lembro-me de minha casa em Jordão Baixo, de como as coisas se repetem da minha rotina lá e da rotina do povo daqui, em minha cabeça só passa uma réplica deste cenário, imagine se a escola Professora Luziana Maria Pereira estivesse assim? Ou a panificadora Vale do Jordão destruída e eu tendo que comprar pão lá? E o campo do Flamengo, onde eu ia com os meninos jogar bola, imagine-o todo destruído. Este sentimento me faz pensar em tudo que está acontecendo, estas pessoas não merecem estar assim, por que elas estão assim?

    Em mais um serviço, tive que resgatar uma criança de 3 anos que foi atingida na perna, sua mãe que a acompanhava acabou sendo atingida e não resistiu, meu colega João Felipe foi atingido por estilhaços de uma granada e agora está fora de combate, onde é que eu vim parar? Não era isso que eu imaginava quando quis vir para a guerra, às vezes acho que a única saída deste lugar é a morte, somente eles estão em paz agora, todos os vivos estão numa batalha dia após dia. Muitos de meus colegas estão feridos, alguns não resistiram aos combates diários, outros estão traumatizados, Emanuel está olhando para o infinito, sem esboçar qualquer reação, ontem Gabriel foi abatido por um sniper, vejo do lado de lá do combate o que eles chamam de "Tulipa Negra" levando os corpos dos nossos inimigos de origem eslava, depois de caídos, todos parecem iguais, só muda a vestimenta.

    Eu queria que esta guerra acabasse, não acredito no que vejo e sinto, não há o que fazer mais aqui, o que está acontecendo com estes humanos que estão sofrendo enquanto jogamos um jogo de xadrez, usando suas ruas e casas como tabuleiro? Não era isso que eu queria, os pobres paisanos tentando viver e nós aqui, armados, lutando sabe-se lá o porquê. Acabou a esperança de glória, não há o que vencer aqui, no fim, todos os humanos sairão perdendo, hoje vejo que aqui é o inferno, que não há justiça, não há lado certo ou errado, tantos lutando aqui porque não têm outra opção, para proteger sua família ou se proteger e eu achando que viria aqui para jogar um jogo, me divertir, francamente, não sei quem eu era, não sei quem eu sou, mas isto é algo que não desejo para ninguém. Agora finalmente abri os olhos, posso ver aqui o que nunca me mostraram, a verdade.


Toinho Stark do Cangaço, 14-30/07/2024

(Nota: Qualquer nome destes personagens é mera coincidência com alguma pessoa real)


Preto e branco

     Uma vida tão monótona como luz e escuridão, enquanto estou em casa, a monotonia escurece meu coração, esta é a cor da solidão, quando saio, então há luz, que clareia meus caminhos até pelas noites, a luz da liberdade, porém o custo desta é alto, agora a solidão machuca mais, pois os outros são um exemplo de como minha vida poderia ser melhor, de quanto sou só e estou só, como se fosse castigo, destes que não desejo a ninguém.

    Como se fosse martírio, minha diversão é ofuscada pelas lembranças da realidade, de tal forma que só sinto felicidade se mentir para mim mesmo, se fingir que as coisas são diferentes, assim sobrevivo para amanhã me sentir só novamente.

    A solidão, como lança, perfura meu pungente calado coração, questiona-me como um bispo atacado por um peão enquanto ameaça um cavalo. Devo eu me sacrificar ou fugir? Me pergunto todos os dias, mas preciso da decisão, só passa o turno quando eu fizer algo.

    Esta floresta escura é pior que as do Mikhail Tal, não sei o que fazer, mas sinto que tomarei mate forçado nos próximos lances, talvez afogamento, só sei que este rei está cercado de problemas e sem a coragem do Ivanchuk.

Xeque-mate


Toinho Stark do Cangaço, 01/02/2023

domingo, 28 de julho de 2024

Rocha no mar britada pela água

     Como um quebra-mar, mantenho-me suportando os problemas que são atirados contra mim, num choque violento, ainda assim aguento, mas por quanto tempo?

    A solidão é vagalhão, que me atinge violentamente, arrancando os pedaços de rocha e os atirando ao mar, sou britado por estes sentimentos, sou proteção determinada, forjo aqui o ferro da espada que me fere, aguento à dor como se tivesse sentido, como se fosse lógico, mesmo sem propósito, fico lá, à espera de cumprir meu dever, imóvel, impávido. 

    Mas, como é de senso comum, a água, pouco a pouco, mina a rocha, sinto que estou colapsando, mal aguento meu próprio peso, imagine estas ondas. Pior, sei que mais um vagalhão se aproxima, gigante como sempre, se ninguém reparar estes danos em mim, eu irei ruir.


Toinho Stark do Cangaço, 07/12/2022

domingo, 14 de julho de 2024

Compreensão

     Penso aqui neste metrô de número 17 o quão difícil é compreender o outro, são pessoas de várias idades, vários gostos, medos e segredos, não posso nem imaginar o que cada um já passou. Irônico notar que o metrô anda mais rápido durante o dia, tal qual as pessoas ficam mais lentas e fatigadas à noite. O mesmo cheiro de sapata queimada me faz lembrar de quantas ideias passam por aqui, quantas vezes é a primeira vez que vejo alguém, quantas a última.

    Logo vejo a dificuldade de entender, tantos milênios de conhecimento estão reunidos num mero vagão da Santa Matilde, imagine no mundo. Cada um tendo um ponto de vista da mesma coisa, cada julgamento e preconceito que todos têm perante os outros. Me lembra da escola, cada um com seus julgamentos e suas humilhações, ainda quando por brincadeira, se pautavam nas inseguranças da pessoa para tal, o medo de expor a verdade ou de acreditarem na mentira era combustível da preocupação. Somos forjados a esconder nossas inseguranças, cada pessoa por um martelo, isso explica o comportamento de cada pessoa, os que se protegem do mal se fechando, se abrindo, se tornando ignorante, causando o mau a si ou ao outro, semeando o bem, escrevendo, desenhando ou compondo.

    Não é fácil entender o sentimento alheio, tentar respeitar a todos é uma tarefa digna de um TCC, ser respeitado por todos é utopia. As palavras não têm significado, por mais que você diga o contrário, eu tenho amigos que posso xingar à vontade, rimos juntos e nenhuma hostilidade, mas posso ofender alguém somente elogiando, isto que nem entrei no mérito de línguas diferentes. As palavras significam apenas o que queremos que elas signifiquem, porém cada pessoa tem seu próprio querer, será que falamos mesmo a mesma língua?

    Existo em um cenário distinto, enquanto muitos se veem como protagonista, eu me via como um NPC, sempre achando que nada era para mim e que deveria seguir a vontade alheia, só dedicando a mim os tempos de solidão, que nem meu mais são, busquei tanto compreender e agradar a todos que esqueci de mim, até o ponto da exaustão, quando o egoísmo tomava conta de mim, mas rapidamente tudo voltava ao normal. Agora só quero para mim o amor, será que um dia terei?


Toinho Stark do Cangaço, manhã do dia 12/06/2024

sábado, 13 de julho de 2024

O doce passado

     Queria voltar aos bons momentos eternizados em minha memória, quando minha preocupação era que Junho tinha 30 dias, queria voltar a abraçar minha tia, que me criou quase como mãe, que Deus a tenha, meus avós, meus tios, que um dia me trouxeram tanta alegria, na época eu não sabia, se soubesse, mais atenção daria, o tempo que me deram não volta mais, depois de tudo que fizeram, agora descansam em paz.

    Saudades de quando eu chorava de birra e não de tristeza, de conseguir a proeza de achar sempre esperança, a espera de uma bonança que talvez nunca chegará. Enquanto míngua meu desejo e alegria de viver, minha expectativa de vida minha esperança. 

    O passado era doce, eu tinha tempo, um pouco de amor e carinho, e, mesmo que pouco, era melhor que nada, eu tinha asas mas não tinha liberdade, hoje sou livre, mas minhas asas enferrujadas não têm força de me levantar do chão, me rastejo até minha liberdade, que nada me vale pois dela não posso gozar.

    Não que o passado seja bonito, mas nem 15 anos implorando pelo doce alívio da morte, para que eu parasse de ser torturado pelas alergias, sinusite, rinite e mais, meu refluxo que me limitava e me fazia passar mal todos os anos, o bullying que eu sofria, até mesmo de professora e diretor de um colégio, os castigos abusivos só pela minha hiperatividade, ser trancado no quarto, humilhado, ter ficado doente de algo, que nem os médicos sabiam o que era, por meses ao ponto de ficar extremamente magro, cair o cabelo e eu quase morrer, se bem que eu nem lembro deste último, minha mãe me contou, eu lembro de tudo que aconteceu antes ou depois, mas nada deste período, exceto que eu estava tão magro que tiveram de adicionar novos furos ao cinto para que prendesse novamente a calça. 

    Mas nada disso, nem minha miopia de 4,50 no olho esquerdo e 5,50 no olho direito, o astigmatismo, a pobreza, nada disso me machuca mais do que a solidão, olha que eu já caí 8 metros de escadaria e por outra vez acertei a coluna na quina da escadaria, eu andei por quilômetros com o tornozelo torcido e peguei um ônibus para o hospital por opção própria para não pegar um táxi, nada disso machuca mais que a solidão, pois estas dores desapareceram em horas, dias ou meses, a solidão me persegue até hoje.

    A falta de esperança de que um dia isso acabe, vendo somente as pessoas partirem, mas nunca chegarem, machuca a minha alma. 

    Com amor, nada é tão difícil de superar, sem ele, tudo, por mais mundano e banal que seja, parece o mais impiedoso dos desafios.


Toinho Stark do Cangaço, 24/02/2022

死にたい

本当にだめだ

大嫌いです


荒潮たすけって下さい

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Um mundo melhor

É parte de nossa vida

Cuidar daqueles ao redor

Quem no bem se consolida

Torna este mundo melhor


É preciso ter mais amor

E a todos respeitar

Para um melhor mundo compor

E então a vida se alegrar


Quem sabe o que o futuro traz?

Nossa vida é surpresa

Precisamos de ter mais paz

E viver desta beleza


Talvez nós devemos perdoar

E até mais um pouco ensinar

Nossa vida vai melhorar

Quando isso você praticar



Toinho Stark do Cangaço, 29/04/2022