Encontrei na escrita o refúgio que preciso, uma pequena cabana de folhas na selva que é a vida, não é bom, saudável nem suficiente, mas é o único que tenho. Aqui as palavras saem com força, como o pulsar do sangue numa artéria, saem com o gatilho do sofrimento, que rasga-a, permitindo-o jorrar, derramar sobre o papel os sentimentos.
Uma das razões para que eu escreva é como mecanismo de enfrentamento, sentimentos que eu nem entendo, tudo sob a suposta alegação de me fazer sentir melhor, diria que a sensação é como expelir algo que te faz mal do corpo, é ruim, mas seria pior se ficasse dentro de mim.
Navalha de palavras, é como descrevo meus textos mais cruéis, partir o seu coração só para que sintas por um tempo o que sinto a vida toda. Nem sempre é tão direto, nem sempre é o que sinto, às vezes é o que quero sentir, às vezes empatia, às vezes estou tão destruído que só quero demonstrar em outro personagem os mesmos sentimentos que tenho.
Afiada como lança, minha mão rasga o papel em busca de sentido em tudo que passo, cada mágoa é um potencial texto, uma bateria pronta para ser descarregada, um ônibus lotado chegando ao Terminal Integrado do Papel, onde as linhas do caderno se integram com o trem de ideias, são sentimentos passageiros num bilhete único.
Para mim, a escrita é o auto-flagelo que me tira destes sentimentos ruins, é como descontar a dor, é o fruto de tudo isso, tentação de uma cobra, o punho de Viktor Tsoi que acende a pólvora, o pulso com mais linhas do que deveria, o cigarro, a bebida, o escape da realidade.
Me vejo no espelho com olhos de quem já desistiu há anos, quando estou sem esperanças, escrevo como se fizesse diferença, quando a vida me machuca, machuco o caderno com o lápis, quando me sinto só, crio companhia na ilusão ou crio outro solitário para me identificar. Às vezes quero assistir a um drama cruel, só para chorar as mágoas que sinto, quando cansei de chorar meu sofrimento, quero rasgar meu coração com empatia.
Cortar os laços com a solidão faria-me tão bem, mas talvez cortaria também meus laços com o papel, não que a vida deixaria de ter problemas, na verdade, novos problemas surgiriam, mas eu teria motivos para seguir em frente e uma mão amiga nos momentos difíceis, ou seja, a dor não doeria.
Toinho Stark do Cangaço, 10/08/2024, 20:26
Nota do autor: A ociosidade que eu poderia estar aproveitando na companhia de alguém que me ama, utilizo para escrever este texto e muitos outros, pois há ausência da mesma, desta forma creio que não mais escreveria se tivesse amor na vida, ou talvez reduziria bastante, mudando para uma leitura mais leve. (Adicionada dia 10/08/2024 às 20:31)
(Encontrei uma navalha afiada para me cortar)
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