sexta-feira, 29 de março de 2024

Diário de um filho

     Às vezes me pergunto o porquê de seres assim, de buscares sempre motivos para humilhar a mim e minha mãe, querendo sempre que façamos as coisas ao seu gosto e jogando em nós a responsabilidade, só para depois nos responsabilizar pelos erros que você tem medo de cometer, por isso não faz, até quando você erra, a culpa é nossa por não ter feito, por ter atrapalhado, por existir, somos apenas em quem você descarrega tudo que sofre lá fora, nos fazendo sofrer também.

    Eu vejo em ti a melhora a passos lentos com leves recaídas por causa da bebida ou do sofrimento, te vejo e tenho medo, pois tantos traumas de minha vida têm seu nome assinado no rodapé, não consigo me ver feliz com a tua presença mesmo se você se tornasse a melhor pessoa do mundo, só te vejo como a eterna cobrança e repreensão, não posso me divertir na tua frente, pois sei que serei repreendido, fujo de ti quando posso, não quero compartilhar a mesma mesa, o mesmo sofá, o mesmo espaço.

    Não queria que as coisas fossem assim, eu queria paz, respeito e poder aproveitar meu tempo contigo, mas sinto que os gritos, os xingamentos e as humilhações começariam novamente num piscar de olhos, então só me afasto daquilo que me faz mal, me esquivo da pessoa que eu mais deveria amar nesse mundo, mas só sobrou tristeza, trauma e sofrimento.

    Não quero ser ingrato, agradeço pelo dinheiro, pelo sustento, pela escola que você pagou, a comida comprada com o seu dinheiro, por tudo que o dinheiro que você suou para ter e escolheu me dar, toda a ordem que você pôs nesta casa, todas as vezes que me corrigiu com razão, no fim, posso te considerar uma autoridade, um provedor, mas não um pai.

    Não vejo como melhorar este quadro, pois você é muito cabeça dura para sequer me ouvir ou entender este texto, eu entendo, também sou cabeça dura, acredito que o melhor caminho é cada um viver do seu jeito, sem um interferir na vida do outro. Você lembra quando reclamei que seu alicate era muito duro de usar e você me gritou que quando eu tivesse minhas ferramentas, eu que deixasse-as do jeito que quisesse, mas que não reclamasse das suas? Então acho que é isso, assim como as ferramentas, deveríamos ter cada um a sua vida, você do seu jeito rígido, eu do meu jeito maleável, seria o melhor caminho, quem sabe assim, um dia, eu possa ter gosto em te chamar de "pai".


Toinho Stark do Cangaço, 30/03/2024


Nota do autor: Talvez, mas tipo, só talvez mesmo, uma pequena hipótese assim, bem pequena mesmo, isso tenha a ver com a minha vida, só talvez.

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