quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

O viajante perdido (História curta)

     Ainda tenho uma longa estrada a seguir até meu destino, destino este que eu mesmo almejo, mas não controlo, não tenho atalhos, caminhos alternativos e o que antes era uma cidade no canto dos meus olhos, agora é só deserto, todos que andavam ao meu lado ou caíram ou abandonaram a estrada.

    Mas que estranho, todos deveriam estar nesta estrada, nesta peregrinação forçada, é como se todos seguissem o mesmo caminho, só que sem notar a presença dos outros, como se ambos não existissem. Meus passos estão pesados, carrego um mundo em minha cabeça e outro em minhas costas, as memórias do passado, que um dia me fizeram sorrir, agora me machucam, saber que esta estrada é de mão única é a única certeza que tenho, não posso voltar de onde vim, devo seguir em frente ou desistir.

    A chuva cai fraca perto da torrente que castiga meu coração e cada passo que dou me faz pensar que desistir é melhor que tentar, o meu martírio de erguer a perna para mais um passo é tanto que quero parar, abdicar do caminho.

    De que adianta seguir este caminho incerto? Só me machuca a cada passo, cada quilômetro eu me arrependo dos 365 passos dados para chegar lá. Nem mais conto os passos, sei de cor quantos preciso para a próxima marca, não celebro mais passar o quilômetro, na verdade, sinto triste de nada ter conseguido em mais um quilômetro de jornada.

    Doente, com uma incessante fome e sede, sede esta que a chuva não cura, mas pelo contrário, piora, desistir se torna uma esperança de salvação ao invés de um sofrimento.

    Então eu deixo meus joelhos caírem por terra, meu corpo ceder, Aos abutres que já cercam minha cabeça, mas não me sinto triste.

    Caído, eu peço ajuda, mas todos me negam, são todos miragens, eu peço a Deus, mas nada acontece, a Alláh, a Nieztsche, a Nike, a Rá e quem mais acreditar, ninguém me responde.

    "Eu não aguento mais! Eu desisto desta caminhada, desse inferno frio de egoísmo, ninguém quer me ajudar! Seus ingratos! Quando pediram, eu lhes ajudei!". Gritava, mas nem isso ouviam.

    Então o doce alívio da desistência pôs fim ao amargo gosto da luta. Que meu esqueleto na estrada lembre ao mundo das almas ingratas que não me ajudaram e que chorem aqueles que só se importaram tarde demais.

FIM.


Toinho Stark do Cangaço, 07/12/2021

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