terça-feira, 14 de dezembro de 2021

As aventuras do amor 1

     Mas se não é perfeito chegar em casa e se deparar com a perfeição em pessoa, em seu vestido branco com babados nos braços, uma auréola em seus longos cabelos que minha mão há de percorrer. Emana luz de seus olhos enquanto sorri timidamente, minha timidez retribui na mesma moeda, meu corpo queima de vergonha enquanto nossos olhos se cruzam, tamanha a pureza num olhar inocente que cativa o mundo.

    Trocamos cumprimentos como se fosse a primeira vez, é tanta felicidade que me faz ofegar, sorrir, encher meus olhos de lágrimas. Olhar para ela perdido no tempo é suficiente para satisfazer-me, poderíamos passar horas só nos admirando.

    Uma música doce ecoa pela casa, Nocturne do Chopin, enquanto pomos na boca um do outro alguns pedaços de queijo e frutas, no fundo queríamos que fossem nossos lábios na boca um do outro.

    Ela dá-me a mão e me tira da mesa, novo ritmo, outra música, agora Cânone em Ré Maior do Pachelbel, corremos pelo jardim verdejante através das flores, mas a mais linda flor é ela, seguimos girando e saltitando até o clímax da música, onde olhamos nos olhos um do outro, deitados na grama com ela sobre mim, envoltos por um beijo intenso.

    Nos levantamos constrangidos, agora toca a Valsa das Flores, do Tchaikovsky, andamos pelo bosque enquanto a ponta dos nossos dedos passeia pelas flores e folhas.

-"Sabe, és como uma flor: Delicada, bela e cheirosa; Queria tocar sua pétala no orvalho da manhã". Eu a digo;

-"Obrigada, são seus olhos que me veem assim". Ela responde de maneira suave;

-"Não importa quantas vezes digo que te amo, ainda sinto que não é o bastante". Digo com convicção;

-"Eu também te amo muito". Ela responde com entusiasmo.

    Então ela reclina sua cabeça nos meus ombros enquanto sentamos na grama, contando-me tudo que fez durante o dia. Conto-a também o meu dia.

-"Está melhor agora que estais comigo, certo?". Ela questiona retoricamente;

-"Sempre é melhor quando estou contigo, meu amor". Eu a respondo segurando seu queixo;

  "Quero sempre pôr minha boca em seus lábios, matar minha sede de amor, sentir seu gosto". Eu digo-a mordendo os lábios e olhando para cima.

    Ela cora e vira o rosto, nossas mãos se aproximam, se entrelaçam e, como consequência, exalamos um gemido suave.

    Ao som de Con te partirò, do Andrea Bocelli, ela repousa a cabeça sobre meu ombro, nós trocamos falas bonitas e ela cochila ali enquanto acaricio sua cabeça levemente.

    Minha mente se enche de pensamentos enquanto eu sigo eternamente grato de tê-la ao meu lado.

FIM

Toinho Stark do Cangaço, 02/12/2021

As aventuras do amor: Prelúdio

     A série de histórias "As aventuras do amor" conta a história de um casal indefinido, onde o eu lírico fala de suas aventuras com sua doce esposa, a qual seu amor é incondicional, ainda que algumas definições sejam feitas sobre o casal, elas são facilmente adaptáveis, podendo assim qualquer casal adaptar a história para a sua realidade.

    A proposta dessas histórias é ver a vida de um casal de forma mais romantizada, onde o amor entre os dois cresce cada vez mais por perceberem as qualidades uns dos outros muito mais do que os defeitos, dada a ênfase em qualidades sempre que possível. Quando um vê o outro como perfeito, ou ao menos como o maior amor de sua vida, não existe nada que seja problema, e tudo que acontece de errado é só um motivo para ajudarmos uns aos outros a superar os problemas.

    O casal em questão tem uma série de códigos, uma série-de-um-ou-dois-números que representa uma mensagem predeterminada por uma tabela, assim eles podem falar abertamente de suas intimidades sem que os outros saibam do que se trata. A lista cresce conforme a necessidade e os números não foram escritos em ordem, para não deixar óbvio o que eles poderiam significar, mas sim, dispersos entre as centenas de números possíveis, sendo um de até três dígitos (principal) e um de até dois dígitos (secundário e opcional, serve para dar contexto ao número principal, por exemplo, se eu falasse 2-5, onde 2 seria "pão" e 5 seria "comer", eu estaria dizendo "comer pão", e 2-6, onde 6 fosse "assar", eu estaria dizendo "assar pão" ou "fazer torradas", livre à interpretação, se eu falasse só 2, significaria só "pão" na frase, claro que os números não são ditos avulsos, requerendo que seja dito a palavra "código" antes, podem estar inseridos no meio de frases, como: "Queria que me trouxesse um Código 2 agora").

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

O viajante perdido (História curta)

     Ainda tenho uma longa estrada a seguir até meu destino, destino este que eu mesmo almejo, mas não controlo, não tenho atalhos, caminhos alternativos e o que antes era uma cidade no canto dos meus olhos, agora é só deserto, todos que andavam ao meu lado ou caíram ou abandonaram a estrada.

    Mas que estranho, todos deveriam estar nesta estrada, nesta peregrinação forçada, é como se todos seguissem o mesmo caminho, só que sem notar a presença dos outros, como se ambos não existissem. Meus passos estão pesados, carrego um mundo em minha cabeça e outro em minhas costas, as memórias do passado, que um dia me fizeram sorrir, agora me machucam, saber que esta estrada é de mão única é a única certeza que tenho, não posso voltar de onde vim, devo seguir em frente ou desistir.

    A chuva cai fraca perto da torrente que castiga meu coração e cada passo que dou me faz pensar que desistir é melhor que tentar, o meu martírio de erguer a perna para mais um passo é tanto que quero parar, abdicar do caminho.

    De que adianta seguir este caminho incerto? Só me machuca a cada passo, cada quilômetro eu me arrependo dos 365 passos dados para chegar lá. Nem mais conto os passos, sei de cor quantos preciso para a próxima marca, não celebro mais passar o quilômetro, na verdade, sinto triste de nada ter conseguido em mais um quilômetro de jornada.

    Doente, com uma incessante fome e sede, sede esta que a chuva não cura, mas pelo contrário, piora, desistir se torna uma esperança de salvação ao invés de um sofrimento.

    Então eu deixo meus joelhos caírem por terra, meu corpo ceder, Aos abutres que já cercam minha cabeça, mas não me sinto triste.

    Caído, eu peço ajuda, mas todos me negam, são todos miragens, eu peço a Deus, mas nada acontece, a Alláh, a Nieztsche, a Nike, a Rá e quem mais acreditar, ninguém me responde.

    "Eu não aguento mais! Eu desisto desta caminhada, desse inferno frio de egoísmo, ninguém quer me ajudar! Seus ingratos! Quando pediram, eu lhes ajudei!". Gritava, mas nem isso ouviam.

    Então o doce alívio da desistência pôs fim ao amargo gosto da luta. Que meu esqueleto na estrada lembre ao mundo das almas ingratas que não me ajudaram e que chorem aqueles que só se importaram tarde demais.

FIM.


Toinho Stark do Cangaço, 07/12/2021